sexta-feira, junho 02, 2006

O regresso

A noite, como todas as noites londrinas, estava fria. Mas estava escrito que aquela não seria mais uma noite londrina. Seria sim, mais uma daquelas noites.
Estávamos em Novembro de 1991 e depois daquele empate caseiro com o Arsenal a um golo, era obrigatório ganhar, ou, no mínimo, empatar a dois ou mais golos, para garantir a passagem à primeira edição da Liga Dos Campeões, que era então uma mera poule em trânsito para um modelo competitivo completamente diferente do anterior.
Highbury Park foi o cenário para Isaías assinar o seu lugar na história do clube e esmagar o Arsenal, mas mesmo antes do jogo começar percebia-se que o Benfica poderia ganhar.
O onze aparece disposto no ecrã da televisão quase como um cenário futurista, que não existia em Portugal, com as peças colocadas num campo virtual no ecrã que tentava desenhar a táctica.
Eriksson, então como hoje, sem medo em apostar em perfeitos desconhecidos em grandes palcos - lembro Theo Walcott, de 17 anos, cuja frieza nórdica achou ser útil à sempre envolta em febre mediática selecção inglesa no Mundial - lança Rui Costa.
Pormenor: Número 10, na altura em que os onze números se escolhiam na hora.
O número 10 era o de Rui Costa e, desde aquela noite, até hoje, nunca mais deixou de ser (mesmo que Futre a tenha usado na mesma equipa de Rui Costa, isso é um pormenor), apesar de Rui Costa ter vestido duas outras camisolas e o número 10 do Benfica ter sido vilependiado por outros quantos - Nelo à cabeça.
Rui, descoberto por Eusébio num treino de captação - onde se descobriam jogadores antes de aparecerem esses engravatados empresários detectores (detractores?) de talento - sempre foi um apaixonado pelo Benfica.
Filho legítimo da camisola 10, um jogador fabuloso, com traços de regista como Giannini mas com o génio cigano como só o Benfica poderia oferecer, a dar à geometria do seu futebol uma tonalidade de criatividade raríssima no mundo, nunca disfarçou o amor ao clube. Quando cá jogou, quando saiu, quando contra nós marcou, quando suspiramos por ele durante 12 anos seguidos e ele respondia sem disfarçar o encanto e a saudade.
Cartas de amor em tempo de guerra no futebol.
Depois de 12 anos adorado em Itália - não há, no mundo inteiro, melhor currículo que ser um deus do calcio - agora, finalmente, felizmente, inevitavelmente, o regresso.
Bem-vindo Rui Costa.

Manuel Castro

4 Comments:

At 8:15 da tarde, Anonymous Anónimo said...

agora sobre uma coisa diferente... que historia é essa de não terem ninguem para vos ler... eu passo todas as semanas neste blog para ver o que andam a escrever, só não comento pq não tenho nada para comentar, mas isso de mandar mails a publicitar aos amigos o blog é muito á frente... inovador quase, só espero que dê frutos

 
At 12:05 da tarde, Blogger Rui Castro said...

Espero estar enganado, mas suspeito que as pernas do Rui Costa não aguentem a pressão que estão a pôr em cima do "rapaz".

 
At 10:13 da manhã, Anonymous Anónimo said...

I say briefly: Best! Useful information. Good job guys.
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At 2:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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