O que é que eu perdi com o King Kard? Entre muitas outras coisas, agora só posso ir ao Alvaláxia, o que dentro de pouco tempo se irá tornar insustentável, e vai fazer com que tenha de perder um cartão que me faz, em alguns meses, pagar cerca de 2 euros por filme. Este cinema anda a fazer um esforço grande para alargar gostos. O que significa que não tenho perdido nenhum filme essencial.
Mas o que é que eu perdi com o King Kard? Bom, vou ao cinema sozinho e com frequência desde que ando no 6º ano da Delfim Santos, as minhas idas ao cinema eram feitas em dois sítios, um perto, em que gastava rapidamente os filmes que tinha para ver, o cinema no Fonte Nova. Por vezes acompanhado da minha grande amiga Sofia - por vezes sozinho - fazia sempre a minha viagem pelo cinema acompanhado de umas belas gomas na loja em cima do cinema que depois passou para o lado... ou então fazia uma viagem mais longe mas que gostava bastante de fazer, a viagem para as pipocas. Aí que criminoso! Gostas de ver filmes com pipocas! Gosto sim senhor! E então? Fui muitas, mas muitas vezes ao Amoreiras, houve uma altura no verão em que praticamente gastava toda a minha mesada a ver filmes no Amoreiras e a gastar alguns trocos nas máquinas de jogos antes de ser expulso da casa de jogos por não ter idade para lá estar, MALDITOS 16 QUE NUNCA MAIS CHEGAVAM! Quando fiz 16 deixei de ir a casas de jogos... curiosamente... Mas nos amoreiras havia filmes que nunca mais acabavam! Ele eram Van Dames, ele eram Kevin Costners, ele eram Harrison Fords! Comia tudo! Do bom ao mau! Ou melhor do péssimo ao genial, sempre com a mente aberta. Por vezes gosto de ver pancada, por vezes gosto de ver beijinhos, choros e amores, por vezes gosto de ver aventuras, mas nunca disse não a um Woody Allen, a um Fellini, ou a um Scorcese.
Mas o que raio é que eu perdi com o King Kard? Sem ser o facto de não ser King coisa nenhuma? Eu vou ao cinema com a minha namorada vai fazer 9 anos daqui a umas semanas, já vimos tantos filmes como grande parte deste mundo nunca virá na vida, é o nosso passatempo preferido, ver filmes e falar sobre eles. Sempre, em todos os cinemas que vou com ela, arranjamos pessoas que, devido à nossa frequência (sem qualquer tipo de cartão, diga-se!) nos reconheciam, e diziam olá, e sorriam com cumplicidade...
No São Jorge havia um velhote que se ria sempre muito para nós e nos dizia – não se cheguem muito à frente desta vez que o filme é muito mexido e faz mal aos olhos. Era um velhote simpático que sabia que parávamos ali muitas vezes. No Saldanha acontecia isso, no King também, no Londres a mesma coisa, mesmo no cinema do Corte Inglês e até mesmo no próprio Alvaláxia. Só que neste momento, os habituais devem ser tantos... que os santinhos que andam lá a trabalhar com contratos de 6 meses mais um ano, e nem mais que isso, não têm paciência para pensar quem é quem. Sâo as mesmas caras todos os dias... vão lá querer dispensar um segundos para satisfazer as carências afectivas de um casal que só sonha com um cinema calmo com muito coisa para ver...
Sinceramente não vejo como é que a industria está em crise...
Novamente – para o Bonnie corrijo o menos possível, se virem algo escandaloso ou um parágrafo inteiro incompreensível por favor digam que eu passo a tomar mais atenção!
Miguel Bordalo
