quarta-feira, abril 04, 2007

O que resta?

Os dois ou três visitantes deste blogue terão por certo reparado que os últimos posts eram uma espécie de teaser para o grande jogo deste passado domingo.
Nada como uma pequena homenagem ao melhor jogador de todos os tempos para que nos possamos recolher naquilo que é mais importante no futebol: a paixão.
Passados alguns dias sobre o jogo, o que resta é tudo menos o que interessa.
E outras questões se levantam.

Quando olhamos para a sociedade portuguesa de hoje, não nos podemos deixar de preocupar com a ascenção das organizações que fomentam a violência e o ódio, nas suas mais diversas formas. Tal como no resto da Europa, é muito preocupante o assomo da extrema-direita à cena pública nacional.
O que há poucos anos estava restrito a um bando de fanáticos, hoje tem direito a outdoors orgulhosos e é um lobbie forte que, dentro de uma lógica neo-populista que se ergue num discurso à taxista, se mexe como uma enguia esperta para obter mais visibilidade - veja-se a título de exemplo o resultado absurdo dos Grandes Portugues, com a vitória do pior português de sempre.

As claques dos grandes clubes sempre foram uma porta escancarada para a inflitração de membros de organizações neonazis e neofascistas, um nicho apetecível porque congrega uma série de gente insatisfeita e deslocada, incorporando também uma ordem de militância e rigor tão ao gosto destes democratas - e é, claro, um óptimo foco de visibilidade para a divulgação deste género de ideiais.
Tem sido assim nos últimos 20 anos, com picos em meados dos anos 90, onde se deram casos graves que resultaram em cisões em grandes claques como os Diabos Vermelhos. Nos últimos tempos foi a mítica claque do Sporting, Juve Leo, a ter problemas do género, que resultaram em mais uma cisão - resultado das mais variadas demonstraçõs de poder por parte destes grupos de infiltrados.

A claque do maior clube do Porto é um caso à parte. Sempre carregando as mesmas cruzes célticas, o que os distingue dos outros é o de parecem mais uma extensão do poder que há anos domina o maior clube do Porto - o mesmo abençoado pelo poder político. Esta claque é uma espécie de legião pau para toda a obra que aparece ao lado do presidente do maior clube do Porto nas situações mais complicadas, quase como uma escolta milicial. Há uns anos o presidente do maior clube do Porto dizia que se fosse preciso soltava os cães para mandar os jornalistas para fora do antigo estádio do maior clube do Porto. Hoje, definitivamente, já não precisa desses bichos.
Parece-me escandaloso que o líder da claque do maior clube do Porto apareça a dizer, sobre os incidentes do jogo de Domingo, que "ainda bem que a polícia não carregou, porque teria resposta". Não preciso de lembrar o que já aconteceu em visitas do Benfica ao estádio do maior clube do Porto, com velhos, mulheres e crianças, a conhecerem o sabor dos bastões do sempre pronto corpo de intervenção da PSP do Porto, mas o facto destas ameaças não terem uma resposta cabal deixa-me preocupado.
Claro que o Benfica e a PSP têm responsabilidades na colocação da claque do maior clube do Porto no topo superior do estádio, porque deviam saber que este género de gente não pode ser tratada como adeptos normais.
Atirar petardos e cadeiras de um anel superior para um inferior é criminoso. Discutir superficialidades como foras-de-jogo (Jesualdo, quem te viu) e ignorar isto, dando tempo de antena a tipos com ar de Rocco Sifredi da Ribeira é uma anormalidade só possível neste país.
O freak show banalizou-se. Vale tudo.
E resta, cada vez menos, aquilo que verdadeiramente interessa.

MC