Vocês aí!Agora que somos muitos a gostar de futebol - daqui a uma semana voltamos a ser os "fanáticos" do costume - nada como fazer um post sobre futebol.
Cá estamos, meias-finais do Campeonato do Mundo de Futebol. Parece impossível, não?
Não vale a pena dissertar muito sobre esta selecção, a verdade é que nós temos grandes jogadores e o homem certo para lhes lembrar que não é pelo facto de serem grandes jogadores que vão ganhar alguma coisa.
Apesar de alguns ignorantes continuarem a menosprezar esta equipa - veja-se o caso desse jornal-ícone de um país que nem sabe o que é uma bola de futebol, o
New York Times - esta equipa, nos últimos dois campeonatos da Europa ficou, respectivamente, em terceiro e segundo lugar.
Será esta então a mesma equipa que a França vai reecontrar numas meias-finais de um grande campeonato, reeditando aquele dramático duelo de 2000 (depois do qual, como diziamos ontem nos anos do meu grande amigo Miguel, demoramos 5 anos a admitir que o Abel pôs mesmo a mão na bola) ?
Não.
Mais uma vez, o herói português. Três penalties é obra! E contra a Holanda, uma defesa da qual ninguém falou. Um voo daqueles, só o de Goycochea no Itália 90, num tiraço de Alemão de fora da área que o argentino foi buscar ao ângulo superior direito.Primeiro estamos recheados de bons jogadores. Não há um jogador que se possa considerar mau nestes 23. Temos uma equipa mais equilibrada, mais batalhadora, mais organizada e que defende melhor - e com uma defesa melhor, ainda que amputada de um dos seus eixos fundamentais, Jorge Andrade. A equipa há 6 anos era mais instintiva, entusiasmante, sensorial, mas ao mesmo tempo, punha demasiada crença num golpe de teatro de um dos nossos génios.
Hoje temos isso - porque podemos continuar a confiar na decisão individual - mas temos também uma equipa. Por aí, descobrimos outro caminho fundamental: os nossos génios estão sob uma escolta melhor.
Na altura tínhamos Rui Costa, Figo e João Pinto, acompanhados por Paulo Bento e Vidigal.
Hoje temos Deco, Figo e Ronaldo, seguros por Maniche (que é, em si, outra mais valia) e Costinha, ou Petit. Penso que no jogo com a Holanda viu-se outra coisa, de substancialmente diferente em relação aos outros campeonatos: como seria mais que previsível, não perdemos a cabeça, como no Euro 2000 depois do jogo, ou como no infame Mundial da Coreia.
A arruaça, ser português em Nuremberga.Raça!Bairro da Boavista representin´. Quem o viu e quem o vê.Mais, não só revelamos uma postura heróica - veja-se o Petit e o Ricardo Carvalho e a entrega física e mental ao jogo, os cortes, os berros, os incentivos - como mostramos orgulho na defesa daquela camisola. Figo, depois de muito provavelmente insultado pelo catalão adoptado Van Bommel, enfiou-lhe uma cabeçada à boa maneira do Cais do Sodré (não confudir com a cabeçada à Cais do Sodré). O mesmo Figo que, depois de anos complicados em Madrid, voltou a ser um jogador com alma e tem sido o grande capitão e o grande líder que precisamos.
Capitão Figo e o angolano Figueiredo, um dos maiores talentos do futebol português. A magia ainda não saiu do chapéu dos portugueses, haverá de sair, contra a França ou, espera-se, na final. E se não sair, o que é que interessa?
É melhor sermos operários vencedores que magos (mais uma vez) iludidos às portas do paraíso.
Não poderia haver melhor adversário que a França para estes operários.
A França, que já se imagina na final com a Alemanha (que vai ter que suar muito para passar a Itália, e mesmo assim duvido que o consiga). A França que despreza os portugueses, como poucos outros o fazem. Senhorios
vs porteiras.
A França luminosa, arrogante, chauvinista.
E uma França que tem Zidane, tem tudo.
Mas é contra tudo que também estamos habituados a lutar - e em boa verdade, até gostamos que assim seja - por isso, venham eles.
Quem duvida que já ganhámos o que tinhamos a ganhar?Manuel Castro