Um destes dias estava eu no meu hobbie preferido de viagens rotineiras, zapping radiofónico, quando escutei numa voz exaltada. Parei.
O discurso parecia saído de um Gato Fedorento, ou de um Bolas com Creme, ou um programa do Nuno Markl, mas não, era mesmo a sério.
A voz feita imagem só me fazia lembrar um personagem que partilhava o 24 connosco, quando íamos para o remo - os putos do Atlético chamavam-lhe tão só o "mister", uma figura saída do PREC, com um bigode e cabelo à Pietra (espera lá, seria o Pietra?) e uns óculos gigantes, direitinho para os treinos de futebol do famoso clube de Alcântara (um abraço "mister").
Mas este era outro. Ramalho, assim era o nome, falava para uma qualquer rádio local com a voz embargada sobre o último jogo da sua equipa contra os Pantufas. Pelos vistos o Ramalho, assim se chamava ele e assim falava ele de si próprio dizia que o "Ramalho", ele mesmo, não tinha nada contra os Pantufas.
"Ramalho", "Panfufas"? Pelos vistos o Ramalho tinha uma daquelas histórias de amor-ódio aos Pantufas, mas agora estava do outro lado - contra os Pantufas - e defendia-se com unhas e dentes das acusações de querer ganhar à força toda aos Pantufas, algo que ele, o Ramalho, tinha feito no domingo anterior. Ramalho boa gente fez-me rir uns bons quinze minutos.
Scolari também me faz rir, mas
pelos piores motivos. O brasileiro insiste em fazer da sua casmurrice bandeira, provocando pequenas guerras idiotas como o dono que puxa a trela do cão quando este está quieto e calado.
Não é para o cão ser obediente, é para o dono sentir que o cão é obediente - auto-satisfação.
Quanto às escolhas para o Mundial, nem me quero preocupar com isso, temos demasiados bons jogadores para ofuscar a prepotência do macho gaúcho, e estou mais preocupado com o próximo treinador do Benfica e se o Benfica consegue ou não ficar com o Micolli - porque no caso do Benfica, ao contrário da selecção, precisamos mesmo de um bom treinador para ter sucesso.
E para o Benfica, quem sabe um upgrade do Ramalho?
Um benfiquista?
Um Toni mais pragmático, esquemático e competente? Um engenheiro...
Precisamos de um treinador para mais que um ano, a duração média dos contratos de todos os estrangeiros que por cá têm passado - com sucesso, mas sempre limitado precisamente pelo facto de serem de fora, com dificuldades de adaptação à nossa realidade, com saudades de casa, ou com casos de amor mal resolvidos com os seus clubes do coração. Ou seja, sempre a prazo. O êxito com prazo de validade não interessa ao Benfica. Venha de lá um português.
Manuel CastroPS: caso o eleto seja Scolari, vou considerar seriamente a hipótese de me fazer sócio do Pantufas.